A sustentabilidade evoluiu significativamente nos últimos tempos, deixando de ser uma simples moda ou imagem para se tornar um elemento imprescindível na estratégia empresarial, moldando diretamente os resultados a longo prazo das organizações. Antes considerada uma prática periférica, a conscientização ambiental, social e econômica agora permeia todas as dimensões do mundo dos negócios e as empresas reconhecem que incorporar princípios sustentáveis não apenas atende às expectativas dos consumidores e stakeholders, mas também é fundamental para garantir a resiliência e a viabilidade a longo prazo.
À medida que os desafios globais como as mudanças climáticas se intensificam, a adoção de práticas sustentáveis não é mais uma escolha, mas uma necessidade para assegurar a continuidade dos negócios e contribuir para um futuro mais equitativo e saudável para todos.
Mudanças Climáticas e impacto nas empresas
As mudanças climáticas representam uma ameaça multifacetada que ultrapassa as fronteiras nacionais, impactando não apenas as comunidades locais, mas também exercendo um efeito profundo na economia global. Conferências internacionais, como o Acordo de Paris 1 e as Conferências das Partes (COPs)2 têm emergido como fóruns cruciais para a cooperação global na busca por soluções, nas quais são estabelecidas metas e compromissos de descarbonização que visam mitigar os efeitos adversos das mudanças climáticas.
Como exemplo da alteração das condições de equilíbrio do nosso planeta, somente no Brasil entre 1980 e 2019, a quantidade de cidades brasileiras afetadas pelos desastres dobrou, enquanto que os eventos de ordem meteorológica, climatológica e hidrológica aumentaram de 5 mil para 33 mil, como mostra o gráfico abaixo:
À medida que os países se comprometem com objetivos ambiciosos de redução de emissões, a pressão para a implementação efetiva recai sobre suas organizações, dentre elas, as empresas. Desta forma, elas passam a ser pressionadas para se descarbonizar, principalmente pelos seguintes agentes:
● Instituições financeiras: bancos4 e fundos de investimento5 têm adotado cada vez mais critérios ESG para investimentos, aprovação de créditos e gestão de riscos voltados para sustentabilidade;
● Governos: o mercado de carbono, que já possui bastante rigidez na União Européia6, começa a ganhar força na América do Sul e principalmente no Brasil. O PL 2148/15 foi aprovado pela Câmara dos Deputados7 em dezembro/23 e tem como principal objetivo regulamentar tetos para emissões de empresas e um mercado de comercialização de créditos de carbono (com base no mecanismo do cap and trade8), configurando-se como uma ameaça para empresas altamente poluidoras9 e oportunidade para aquelas que já vem previamente se preparando.
● Grandes corporações: as grandes empresas não somente estão preocupadas com a sustentabilidade em sua própria operação e estão expandindo a preocupação para toda a cadeia de fornecimento10. Se a sua empresa possui um grande player do mercado como cliente, é muito provável que venha a receber cobranças futuras sobre práticas sustentáveis (isso se já não foi cobrada)11 e 12.
● Consumidores: por último, mas não menos importante, os consumidores finais. Pesquisas indicam que os hábitos de consumo têm tido um viés cada vez mais sustentável (principalmente para as novas gerações)13.
Essa dinâmica impulsiona a inovação, estimula a transição para práticas mais sustentáveis e redefine as estratégias de negócios, forçando a adaptação a uma nova realidade na qual a responsabilidade ambiental é inseparável do sucesso econômico a longo prazo 14.
Porém, por onde começar uma eficiente estratégia de descarbonização mediante à todas pressões vindas dos diversos Stakeholders? Pelo Inventário de Carbono.
O Inventário de Carbono
O Inventário de Carbono assume um papel crucial como o ponto de partida em uma estratégia de descarbonização empresarial. Ao realizar uma avaliação abrangente das emissões de gases de efeito estufa (GEE), as empresas podem identificar suas fontes principais e entender o impacto ambiental de suas operações. Comparando com o setor da saúde, o Inventário de Carbono tem o papel parecido com o do exame de sangue: enquanto este mostra os indicadores relacionados à índice de plaquetas, colesterol, glicemia para que sejam indicados tratamentos aos que se situarem fora da normalidade, o Inventário revela quais categorias mais poluentes e passa a ser assim a base para estipulação de metas, definição do ano base, o que posteriormente se converterá em ações de descarbonização e monitoramento.
O documento contém informações relacionadas à emissão dos principais gases de efeito estufa divididos em três escopos principais e suas subcategorias
● O Escopo 1 abrange as emissões diretas, incluindo aquelas provenientes de fontes de propriedade ou controle da empresa, como processos industriais e queima de combustíveis.
● O Escopo 2 abrange emissões indiretas associadas ao consumo de energia (seja elétrica ou térmica)
● O Escopo 3 engloba as emissões indiretas resultantes da cadeia de fornecimento (ou seja, de atividades não controladas pela empresa, porém onde esta possui influência indiretamente). Este escopo inclui tanto as emissões relacionadas atividades necessárias na compra (extração, processamento, transporte dos insumos, etc) na qual é caracterizada como upstream, tanto quanto as emissões relacionadas à venda (transporte dos produtos ao cliente, ciclo de vida do produto, tratamento destinado, etc), caracterizado como downstream.
Os números resultantes dessas avaliações fornecem uma base quantitativa para o estabelecimento de metas de redução de carbono, orientando a implementação de estratégias eficazes de descarbonização e demonstrando o compromisso da empresa na mitigação das mudanças climáticas. Além disso, o inventário de carbono não apenas destaca áreas críticas para intervenção, mas também serve como uma ferramenta essencial para relatórios transparentes e prestação de contas, reforçando a posição da empresa no panorama da sustentabilidade.
Para mais informações das ferramentas disponíveis pela DEEP ESG, acesse: www.deepesg.com.br.
Autor: Conrado Alarcon – Gerente de Projetos da DEEP
Referências:
1- Ministério do Meio Ambiente, Acordo de Paris, disponível em: https://antigo.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/acordo-de-paris.html, último acesso em 18/01/2024;
2- Ministério do Meio Ambiente, Conferência das Partes, disponível em: https://antigo.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/conferencia-das-partes.html, último acesso em 18/01/2024;
3- Revista Galileu, Por que eventos climáticos extremos são cada vez mais parte da realidade, disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Meio-Ambiente/noticia/2020/07/por-que-eventos-climaticos-extremos-sao-cada-vez-mais-parte-da-realidade.html, último acesso em 18/01/2024;
4- Capital Reset, No banco BV, novo score ESG é chave na hora de aprovar (ou não) um crédito, disponível em: https://capitalreset.uol.com.br/empresas/governanca/no-banco-bv-novo-score-esg-e-chave-na-hora-de-aprovar-ou-nao-um-credito/, último acesso em 18/01/2024;
5- Forbes, Nos bastidores, Fed pressiona grandes bancos sobre análises de risco climático, disponível em: https://forbes.com.br/forbes-money/2021/05/nos-bastidores-fed-pressiona-grandes-bancos-sobre-analises-de-risco-climatico/, , último acesso em 18/01/2024;
6- Exame, UE anuncia acordo de “imposto sobre carbono” para importações industriais, disponível em: https://exame.com/esg/ue-anuncia-acordo-de-imposto-sobre-o-carbono-para-importacoes-industriais/, último acesso em 18/01/2024;
7- Câmara dos Deputados, Projeto concede benefício fiscal para produto elaborado com redução de emissões de carbono, disponível em: https://www.camara.leg.br/noticias/846038-projeto-concede-beneficio-fiscal-para-produto-elaborado-com-reducao-de-emissoes-de-carbono/, , último acesso em 18/01/2024;
8- Pensamento Verde, “Cap and Trade”: Descubra como funciona o mercado de carbono, disponível em: https://www.pensamentoverde.com.br/economia-verde/cap-trade-descubra-como-funciona-o-mercado-de-carbono/, último acesso em 18/01/2024;
9- O Globo, Governo fecha proposta para regular mercado de carbono com foco nas industrias mais poluentes, disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2023/06/governo-fecha-proposta-para-regular-mercado-de-carbono-com-foco-nas-industrias-mais-poluentes.ghtml, último acesso em 18/01/2024;
10- Exame, 62% das grandes empresas dizem sofrer pressão do mercado por práticas ESG, disponível em: https://exame.com/economia/62-das-grandes-empresas-dizem-sofrer-pressao-do-mercado-por-praticas-esg/, último acesso em 18/01/2024;
11- Engie, Engie prepara descarbonização na cadeia de fornecedores, disponível em: https://www.alemdaenergia.engie.com.br/engie-prepara-descarbonizacao-na-cadeia-de-fornecedores/, último acesso em 18/01/2024;
12- Capital Reset, Walmart vai financiar transição verde de seus fornecedores, disponível em: https://capitalreset.uol.com.br/financas/bancos/walmart-vai-financiar-transicao-verde-de-seus-fornecedores/, último acesso em 18/01/2024; 13- Veja, Consumidor está mais preoupado com sustentabilidade, mostra estudo da IBM, disponível em: https://veja.abril.com.br/agenda-verde/consumidor-esta-mais-preocupado-com-sustentabilidade-mostra-estudo-da-ibm, último acesso em 18/01/2024;
14- O Globo, Pressão vinda de reguladore e clientes impulsiona avanço das empresas na agenda ESG, disponível em: https://valor.globo.com/empresas/esg/noticia/2023/05/15/pressao-vinda-de-reguladores-e-clientes-impulsiona-avanco-das-empresas-na-agenda-esg.ghtml, último acesso em 18/01/2024 15 DEEP ESG, disponível em: https://www.deepesg.com/, último acesso em 18/01/2024
Este Artigo relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo autor ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis. Nesse texto o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados, não sendo, portanto, de autoria do Blog Programa Circularidade.