O lixo orgânico, como sobras de alimentos, também é reciclável? Sim! Mas não da mesma maneira que materiais como papel, plástico ou vidro: ele pode ser reciclado através da compostagem. A reciclagem é a transformação física, química ou biológica de resíduos em insumos ou novos produtos, no caso dos orgânicos, estamos falando de uma transformação biológica. Neste processo, os resíduos orgânicos são decompostos por microrganismos em um ambiente controlado para produzir composto orgânico, um material rico em nutrientes que pode ser utilizado como condicionador de solo.
A compostagem é um processo milenar que se destaca na atualidade como uma solução promissora diante do expressivo volume da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos. De acordo com um estudo gravimétrico conduzido pela URBAM em 2023, mais de 50% dos resíduos coletados e destinados para o aterro sanitário municipal de São José dos Campos é de origem orgânica. Essa informação revela a importância de uma segregação eficiente na fonte (ou seja, a separação dos resíduos em nossas residências), da implementação da coleta diferenciada destes resíduos e do fomento às políticas públicas de compostagem, não apenas para aliviar a pressão sobre o aterro, mas também para atender às metas nacionais e municipais referentes à valorização de resíduos em direção à um desenvolvimento sustentável.
Os resíduos orgânicos domiciliares são diversos, incluindo cascas de frutas e legumes, filtro e borra de café, saquinhos de chá, sobras de comida cozida, e até mesmo papel. Essa variedade demonstra a amplitude do que pode ser considerado como um recurso valioso para a produção de adubo orgânico, fechando o ciclo dos nutrientes na natureza.
Quanto às técnicas de compostagem, cada uma tem suas vantagens e desvantagens, e a escolha da melhor opção depende das particularidades situacionais e dos recursos disponíveis. Dentre as principais técnicas manuais estão:
➢ Compostagem tradicional em pilhas ou leiras, onde os resíduos orgânicos são empilhados no solo em camadas alternadas com materiais secos, como folhas secas e serragem.
➢ Compostagem em caixa ou tambor, uma opção popular para espaços limitados, onde os resíduos são colocados em recipientes fechados e misturados regularmente para produzir composto de alta qualidade em pequena escala.
➢ Vermicompostagem ou minhocultura, outra técnica eficaz de pequena escala, na qual minhocas são utilizadas para aeração, produzindo um composto rico em nutrientes conhecido como vermicomposto.
Vale ressaltar que a compostagem é um processo controlado, no qual devemos nos atentar para condições ideais de temperatura, umidade e aeração.
Com a operação correta, não é esperado que haja impactos negativos, como mau cheiro e presença de moscas.
No município, existem iniciativas institucionalizadas exemplares que atuam ou já atuaram no tratamento de resíduos orgânicos utilizando técnicas de compostagem:⮚ Compostagem no Paço Municipal: a partir do Programa Compostar e Plantar e da iniciativa de servidores da Secretaria de Urbanismo e Sustentabilidade (SEURBS), atualmente são compostados os resíduos orgânicos de todos os setores do Paço Municipal. O composto gerado do tratamento de, em média, 205 kg mensais de resíduo, é distribuído aos servidores do local.
Figura 1: Compostagem em caixas realizada no Paço Municipal
Figura 2: Composto gerado a partir da compostagem realizada no Paço Municipal
⮚ Centro de Compostagem: localizado no Parque da Cidade e ativo desde 2016, o centro realiza a compostagem dos resíduos orgânicos advindos da Fundação Cultural Cassiano Ricardo e destina o composto gerado para fins de preservação das áreas verdes do local. Além disso, o centro também é um núcleo de educação ambiental, materializando uma variedade de atividades educativas e demonstrações práticas da técnica de compostagem.
Figura 3: Ação de Educação Ambiental no Centro de Compostagem
Fonte: PMSJC, 2022.
➢ Projeto Escola Sustentável: foi concebido em 2019 como uma parceria entre a Universidade Estadual Paulista (Unesp), a Prefeitura de São José dos Campos, o Rotary Club e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). No primeiro ano, o enfoque foi em resíduos sólidos e o objetivo principal foi ampliar o conhecimento sobre o ciclo da matéria orgânica e promover a alimentação consciente em sete escolas de ensino fundamental da rede municipal. Foram beneficiados com o projeto mais de 4.900 pessoas, entre elas professores, orientadores pedagógicos e discentes das unidades escolares participantes.
A população também desempenha um papel fundamental na gestão de resíduos orgânicos, tendo em mãos o poder de transformar seu próprio lixo dentro de casa ou junto à sua vizinhança. A compostagem doméstica, em escala descentralizada, fortalece o senso de responsabilidade ambiental e promove a consciência sobre a importância da gestão sustentável dos resíduos. Mesmo que a prática não se encaixe na rotina individual de parte da população, ainda é possível colaborar por meio de iniciativas privadas que deixam sua marca na cidade.
Em adição, um dos princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é “o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania”. Nesse sentido, vale enfatizar a importância da compostagem para o desenvolvimento sustentável de São José dos Campos. A exploração das oportunidades de crescimento e aprimoramento dessas iniciativas no futuro é essencial para a manutenção da qualidade ambiental do município.
Vamos unir forças para transformar nosso entorno através da adoção de práticas de compostagem! Para mais informações e recursos úteis sobre o processo de compostagem, confira aqui a cartilha e o folder disponíveis na plataforma eletrônica da PMSJC.
Autores: Rebeca Sassaki – Representante da Consultoria Ambiental
Túlio de Lima – Diretor da Vita Engenharia e Consultoria Ambiental
VITA Engenharia e Consultoria Ambiental
Este Artigo relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo autor ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis. Nesse texto o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados, não sendo, portanto, de autoria do Blog Programa Circularidade.