Ser Lixo Zero, é uma decisão de cada um de nós
Em 2014, com a participação de diversos especialistas internacionais e o apoio do Presidente do Instituto Lixo Zero Brasil, Rodrigo Sabatini, sediamos em São José dos Campos, o primeiro encontro internacional “Cidades Lixo Zero” e um dos maiores especialistas do mundo em “Lixo Zero”, chamado Paul Martensson disse: “Essa cidade São José dos Campos, com sua geografia, economia, infraestrutura e engajamento possui todas as condições para tornar-se a primeira cidade LIXO ZERO!” do Brasil.
Essa fala inspirou (a mim e a outras pessoas) e foi determinante na fundação do Movimento Lixo Zero São José dos Campos que desde então desenvolve ações, programas e projetos para transformar São José dos Campos em uma Cidade Lixo Zero.
E porque Lixo Zero? Vamos falar um pouco da cultura do “lixo/descarte”!
Desde o início do nosso processo civilizatório, há basicamente três maneiras de tratar os resíduos daquilo que produzimos e consumimos: o abandono, o aterramento e a queima. Evoluímos em muitas áreas da vida, desenvolvendo ciência e tecnologias, mas pouco mudou nesse quesito, no entanto, até hoje abandonamos, enterramos ou queimamos “lixo”.
Abandonamos nas ruas e calçadas, jogamos pela janela do carro, e o “lixo” acaba nos rios e oceanos. O abandono foi institucionalizado com a criação dos lixões, locais em que as cidades se desfazem, “se livram”, dos desperdícios oriundos de sua produção e do consumo.
Enterramos, quando fica difícil abandonar, amontoando a céu aberto, cobrindo de terra ou, quando muito, construindo uma grande obra de engenharia chamada aterro sanitário, onde pagamos mais caro ainda para enterrar riquezas; neste caso, ao menos “teoricamente”, controlamos o volume e as emissões de poluentes líquidos e gasosos.
O Aterro Sanitário é uma opção de escala, e impacto, tão grande que, normalmente, são necessários cerca de 20 anos de tratamento para a recuperação do terreno após o término da operação.
Mais de 50% das cidades brasileiras ainda destinam seus resíduos, que quando estão todos juntos e misturados consideramos rejeitos (popularmente “lixo”), para lixões a céu aberto. Aproximadamente 20% dos municípios brasileiros têm coleta seletiva implementada, e quase sempre ela ocorre de forma muito deficiente. Menos de 5% dos resíduos gerados no país hoje são reciclados formalmente.
A sociedade civil e parte da população demonstram conscientização e um aumento em seu interesse por questões socioambientais, mas não bastam para mudar a realidade. Nossa contribuição é trabalhar com o Conceito Lixo Zero. Lixo Zero é uma meta, ética, econômica, eficiente e visionária, para provocar a transformação das pessoas, de forma a emular os processos naturais, nos quais tudo que é descartado por um é utilizado pelo outro, fechando o ciclo e evitando assim o envio de materiais para aterros e incineradores. (Definido em 2009 pela Zero Waste International Alliance)
“Lixo Zero é uma meta, ética, econômica, eficiente e visionária”
Como visto, sob uma perspectiva econômica e de mercado, o Lixo Zero se mostra adequado a uma economia circular, que usa de forma eficiente os recursos materiais e energéticos. Também está alinhada com diversas metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, do qual o Brasil é signatário, entre elas:
Na prática, estimula a criatividade ecológica e sustentável no design dos novos produtos, processos e tecnologias, e no redesign dos que hoje existem e que não têm seu ciclo de vida completamente fechado; cria demandas que abrem portas ao empreendedorismo e à ciência; concede aos jovens uma perspectiva de futuro profissional, os estimulando a criar, suscitando o verdadeiro progresso e desenvolvimento.
Sob a perspectiva profissional é consenso desde já há algum tempo que todos os empresários, gestores públicos, lideranças políticas e cidadãos, para terem sucesso, deverão obrigatoriamente ter uma visão para a sustentabilidade, independente de em qual região do planeta atuem. Estamos todos interconectados e estaremos cada vez mais.
Sob a perspectiva local, esta consciência nos leva a uma perspectiva política: Ao adotar a estratégia Lixo Zero, as administrações dos municípios passam a dispor de um instrumento participativo que cria uma ponte muito eficaz entre cidadãos, instituições públicas e iniciativa privada local.
“Visão para a sustentabilidade”
Sob a perspectiva individual, o Lixo Zero é uma forma de diminuir o impacto que cada um de nós causa no PLANETA. É uma tomada de consciência que vem com novas responsabilidades, claro, mas com ganhos incomensuráveis na formação da cidadania. Se reconhecer parte da solução e não do problema com a certeza de poder, e dever contribuir ativamente na comunidade local.
Ser Lixo Zero passa pela escolha de como separar seus resíduos e o que fazer com eles, é uma decisão de CADA UM de NÓS, cada vez que escolhemos a “lixeira” (residuário) que vamos usar. O mínimo são 3 lixeiras (residuário), ou três frações:
- ORGÂNICOS: 55% restos de alimentos para biodigestor e/ou compostagem.
- RECICLÁVEIS: 35% seletiva (plásticos, papelão, metais, etc.
- REJEITOS: 10% o que não conseguimos reciclar (enviado para aterro).
Separados em cada casa ou escritório, os resíduos devem ser coletados pelo poder público de forma seletiva, também nas 3 frações; ou levados para um ponto de entrega voluntária ou compostagem, quando a coleta seletiva não for adequada.
Em São José dos Campos geramos cerca de 700 toneladas dia de resíduos sólidos domiciliares, dos quais apenas 70 toneladas (10% misturados ou rejeitos), deveriam ir para o aterro. Este é um dos princípios que norteia a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), só vai para o aterro o que não pode ser reutilizado ou reciclado!
Queremos uma São José dos Campos LIXO ZERO!
Autor: Leonardo Magno
Fundador do Lixo Zero São José dos Campos – Membro do Instituto Lixo Zero Brasil
Este Artigo relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo autor ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis. Nesse texto o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados, não sendo, portanto, de autoria do Blog Programa Circularidade.